Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 2 - 2023

33 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.2, p.25-41, abr-jun 2023 Hepatite alcoólica Bernardo da Cruz Junger de Carvalho et al. Apesar de não ser aprovado pelo FDA para esse fim, pode-se utilizar o baclofeno (5mg a 10mg 3x/dia) como fármaco “anti- -craving”. Esse foi o único medicamento estudado na doença hepática avançada, pois tem depuração hepática mínima. A Associação Americana para o Estudo de Doenças do Fígado e o Colégio Americano de Gastroenterologia endossaram o seu uso em pacientes com doença hepática alcoólica. (29) Um ensaio clínico randomizado, mul- ticêntrico, duplo-cego, controlado por placebo, de baclofeno no tratamento da dependência de álcool, com ou sem doença hepática, demonstrou que doses de 30mg a 75mg/dia levou a uma melhora significa- tiva na abstinência de álcool. No entanto, dados de segurança levantam algumas dúvidas sobre o uso de doses mais altas de baclofeno e sugerem que a prescrição deve ser limitada a serviços especializados onde seja oferecida supervisão cuidadosa do tratamento. (30) No entanto, é necessário um tratamento multidisciplinar integrado (psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais), e não apenas depender de um único agente far- macológico para auxiliar esses pacientes complexos na cessação do consumo de álcool. Corticoides O racional para o uso de corticoides é reduzir a resposta imune e pró-inflamatória das citocinas, que é muito maior na HAG e é responsável pela lesão hepática. Nos pacientes com HA e Maddrey >32 ou MELD >20, a medicação preconizada é a prednisolona ou prednisona (via oral 40mg/dia) durante 4 semanas (caso o Lille Model no 7 o dia < 0,45) (Figura 1). Numa metanálise que incluiu 15 traba- lhos randomizados, o corticoide não redu- ziu a mortalidade geral, mas sim quando analisados os trabalhos restritos à HAG (RR 0,37, 95% CI 0,16-0,86). (31) Outra metanálise de cinco trabalhos randomizados com 221 pacientes concluiu que o corticoide reduziu a mortalidade no 28 o dia de pacientes comHAG quando com- parado com o placebo (20% versus 34%). (32) Os corticoides não foram testados em pacientes com pancreatite concomitante, hemorragia digestiva, insuficiência renal crônica e infecção em atividade. O tratamento com corticoide não deve ser contraindicado a pacientes com infec- ção após antibioticoterapia apropriada. A HAG está associada a alto risco de infec- ção. O rastreio de infecção é obrigatório, mas não deve contraindicar o corticoide. A não resposta à corticoterapia é, sim, o fator-chave no desenvolvimento de infecção e mau prognóstico. (33,34) Antes da administração do corticoide é obrigatório o conhecimento da sorologia para hepatite B – pelo risco de exacerbação ou reativação – e recomendável realizar cobertura contra estrongiloidíase.

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