Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 2 - 2023

51 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.2, p.42-54, abr-jun 2023 Esteatose Pancreática José Galvão-Alves e Bruna Cerbino de Souza dos quadros de pancreatite aguda, embora não seja fator causal para esta última. Câncer de pâncreas Obesidade, especialmente a forma cen- tral, é considerada um fator de risco bemde- finidopara o câncer de pâncreas, assimcomo tabagismo, alcoolismo, história familiar, diabetes e pancreatite crônica. Stolzenberg e colegas afirmaram haver um risco maior de 45% para o desenvolvimento de câncer de pâncreas em indivíduos com IMC>35. (53) Atualmente, novos estudos têm revelado uma possível contribuição da infiltração gordurosa do tecido pancreático na gênese do adenocarcinoma deste órgão. (54) Recentes pesquisas sugerem que o de- pósito de gordura no pâncreas acarrete a produção de adipocinas por estes adipócitos e que, quando associadas a outros fatores predisponentes encontrados no estado de obesidade, como estresse oxidativo e resis- tência insulínica, favoreçam a ocorrência de neoplasia. (55,56) A presença de esteatose pancreática parece promover ainda uma maior progressão e propagação do tumor, segundo dados recentes. (57) Acredita-se que, à semelhança do que ocorre no fígado, o acúmulo de gordura pancreática possa levar a um estado pró-inflamatório crônico, que por sua vez ocasiona episódios repetidos de pancreatite aguda, até que as alterações características de pancreatite crônica se estabelecem e, secundário a esta, o ade- nocarcinoma se desenvolve. Fístulas pancreáticas Duodenopancreatectomia pode com- plicar com a ocorrência de fístulas pan- creáticas, cujo risco se relaciona com a consistência macia do tecido pancreático remanescente. (58) Mathur et al. estabele- ceram um estudo pioneiro que constatou que a presença de esteatose pancreática aumenta significativamente o risco para o surgimento de fístulas pós-operatórias (P<0,001). (59) Outras pesquisas confirmaram essa interrelação, (60) e Lee e seus colaboradores concluíram que a consistência do pâncreas está intimamente relacionada com a quan- tidade de gordura neste depositada. (61) Em adição, um estudo mostrou que indivíduos que possuíam 10% de tecido adiposo no pâncreas apresentavammaior risco de com- plicações pós-cirúrgicas, como deiscência de anastomose e fístulas pancreáticas. (62) CONCLUSÃO Após revisão da literatura, concluímos que a esteatose pancreática possui uma associação significativa com a obesidade e síndrome metabólica. Os componentes desta síndrome provocam alterações me- tabólicas, como resistência insulínica, inflamação tissular e estresse oxidativo, que contribuem para o surgimento, agravo e progressão desta situação clínica. Em- bora facilmente detectada pelos exames de imagem, poucos estudos sobre a estea- tose pancreática foram desenvolvidos até

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