Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 2 - 2023

EDITORIAL | EDITORIAL 6 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.2, p.6-8, abr-jun 2023 Radiologista – o médico da coxia Radiologist – the physician of the wings Marta Carvalho Galvão | Médica Radiologista O exercício da Radiologia apresenta uma série de particularidades que tornam o radiologista um profissional pouco compreendido por seus pares não especialistas. Ouvimos por vezes ane- dotas que sugerem ser o radiologista um profissional virtual, trabalhando de forma solitária e a portas fechadas. Na maioria das situações, são os nossos próprios colegas médicos que nos referenciam seus pacientes para o atendimento radiológico. O contato radiologista/paciente é usualmente mais rápido do que uma consulta clínica, mas, por outro lado, bastante intenso, visto que o paciente percebe que ao final de um exame por imagem teremos geralmente um veredicto em resposta a uma questão médica, que pode representar, por exemplo, a presença de uma neoplasia de maior ou menor gravidade ou a definição de um desfecho cirúrgico ou não, uma vez que ele percebe que, literalmente, o vemos por dentro. Quando trabalhávamos apenas com a radiologia convencional, recebíamos commaior frequência a visita dos colegas, pois para eles era mais compreensível entender uma imagem em projeção bi- dimensional e tinham, usualmente, mais experiência acumulada com a radiografia, de modo geral. Hoje os métodos seccionais, como a ultrassonografia, a tomografia computadorizada e a resso- nância magnética, têmmaior complexidade na avaliação das imagens, que exige uma compreensão mais apurada do ponto de vista técnico, anatômico e fisiopatológico. Somos considerados especialistas extremamente técnicos, como se isto excluísse a necessidade do contato humano e a compreensão sobre o que o acompanha, como as expectativas, ansiedades e o medo do diagnóstico, que, quase invariavelmente, resulta do procedimento. Evolução, inovação e incorporação de novas tecnologias é desejável, no entanto não deve subs- tituir a sensibilidade, o tato e a experiência que nenhum algoritmo seria capaz de aferir. Não há como robotizar emoções, sem que haja prejuízo no entendimento do sofrimento humano, que é individual, intransferível e sempre exigirá a presença de outro humano. Como professora universitária sou frequentemente questionada pelos graduandos emmedicina sobre qual o grau de proximidade do radiologista com os pacientes, pergunta fruto de um pre- conceito que os afastam da escolha da Radiologia como especialidade. Talvez a Radiologia seja a especialidade que mais absorva médicos de outras áreas, seja pela falta de contato prático prévio com nossas atividades, ou provavelmente porque descobrem a sedução da imagemmais tardiamente.

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