Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 1 - 2023

87 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.1, p.85-90, jan-mar 2023 Doença hepática gordurosa João Marcello de Araujo Neto e Aline Moura Ferraz Pereira ULTRASSONOGRAFIA DE ABDOME Fígado com dimensões normais, con- tornos regulares, ecotextura heterogênea e aumento da ecogenicidade commoderada atenuação sonora, compatível com infiltra- ção gordurosa hepática em grau moderado. Ausência de dilatação de vias biliares intra e extra-hepáticas. Hepatocolédoco normal. Vesícula biliar com paredes finas, sem cálculos em seu interior. Baço e pâncreas normais. Demais órgãos sem alterações significativas. EVOLUÇÃO Trata-se de uma paciente com HAS e DM tipo 2 em tratamento regular com medicações orais. A pressão arterial e gli- cemia estão no alvo. Apresenta dislipidemia sem tratamento adequado e ganho de peso recente com IMC na faixa da obesidade. A paciente detectou esteatose hepática em exames de rotina recentes. Durante a consulta médica, foram cal- culados escores de risco de fibrose hepática avançada: ƒ FIB-4: 1,73 (risco indeterminado) ƒ NAFLD fibrosis score: 2.75 (alto risco) Foi solicitada estratificação de risco mais avançada através de elastografia he- pática ultrassônica. O resultado da elastografia foi compa- tível com ausência de fibrose significativa (F0/F1 METAVIR) e esteatose moderada (S2; 33% a 66%). A paciente foi orientada a promover mu- danças alimentares com o objetivo de perda de peso e prática regular de exercícios físicos. Foi também iniciada estatina para manejo da dislipidemia. Foi solicitada polis- sonografia para investigar apneia do sono. Por fim, foram dadas também informações sobre risco de doença cardiovascular e so- licitado um eletrocardiograma. A paciente foi agendada para retorno ambulatorial em 3 meses para avaliação das medidas de mudança do estilo de vida. DISCUSSÃO Trata-se de uma paciente com perfil muito comum no dia a dia de qualquer médico. Obesidade, DM, síndrome meta- bólica e doença hepática gordurosa não alcoólica caminham juntas. Atualmente, estima-se que em torno de 1/3 da popula- ção brasileira tenha excesso de gordura no fígado. (1) Quando avaliamos os pacientes com DM tipo 2, a prevalência da doença hepática gordurosa ultrapassa 50% dos pacientes. (2) É preciso que tenhamos um olhar atento sobre a doença hepática gordurosa e aban- donemos o conceito de que se trata de uma enfermidade comum e inofensiva. Estima-se que, nos próximos anos, a doença hepática gordurosa se torne a maior causa de cir- rose hepática e transplante hepático no Ocidente, ultrapassando as hepatites virais.

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