Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 1 - 2023

27 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.1, p.16-41, jan-mar 2023 Manejo das complicações gastroenterológicas no paciente diabético José Galvão-Alves e Bruna Cerbino de Souza Insuficiência exócrina do pâncreas A insuficiência exócrina do pâncreas (IEP) é caracterizada pela deficiência das enzimas produzidas pela região acinar pan- creática, resultando na incapacidade de exe- cutar o processo digestivo adequadamente. Essa inadequada digestão, especialmente de gorduras, ocorre progressivamente, ini- ciando-se como disfunção subclínica, que se torna evidente e bastante sintomática quando mais de 90% da função exócrina pancreática foi perdida, levando a um estado de desnutrição caracterizado por esteator- reia, perda de peso, déficits vitamínicos e minerais. Podem também integrar esse quadro sintomas dispépticos e flatulência. Inúmeras são as causas da IEP, incluindo: doenças do parênquima pancreático, que levam à perda do tecido pancreático exó- crino, como pancreatite crônica, fibrose cística e pancreatite aguda extensa necro- sante; condições neoplásicas, por meio da obstrução do ducto pancreático, tal qual adenocarcinoma de pâncreas, tumor muci- noso papilar intraductal, cistoadenoma mu- cinoso e tumores benignos; pós-ressecção pancreática, devido à redução da densidade de células acinares; diminuição dos níveis de colecistocinina causada pela atrofia das vilosidades duodenais vista na doença ce- líaca, que resulta emmenor estímulo para a liberação das enzimas pancreáticas; inapro- priada inativação das enzimas pancreáticas promovida pelos tumores neuroendócrinos gastrinoma e somatostinoma; doenças me- tabólicas sistêmicas, como diabetes mellitus , que em sua pluralidade de sítios de acome- timento danifica também o funcionamento pancreático por uma série de mecanismos, como se verá adiante. Fisiologia pancreática normal O pâncreas é uma glândula mista com- posta pela porção exócrina, responsável pela secreção de suco pancreático, e pela porção endócrina, que tem por sua vez a função de regular hormônios importantes para o metabolismo, como a insulina e o glucagon. Essas porções, além de estarem próximas anatomicamente, exercem uma interação morfológica e funcional entre elas, o eixo endócrino-exócrino do pâncreas. A função exócrina pancreática é realizada pelas células acinares, que sofrem estímulo pela colecistocinina e gastrina, e através do sistema nervoso parassimpático via acetilcolina. A insulina secretada pelas células das ilhotas de Langerhans tem efeito trófico sobre as células acinares, e sua diminuição ou resistência à sua ação pode levar à atrofia acinar e diminuição da produção enzimática (Figura 2). Patogenia da IEP causada pelo DM Fisiopatologicamente, o diabetes mellitus de longa data (tipos 1 e 2) pode predispor à insuficiência exócrina do pâncreas e, inversamente, a insuficiência exócrina pan- creática de avançada progressão é capaz de levar ao diabetes mellitus (neste caso, classificado como tipo 3c).

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