Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 2 - número 1 - 2023

89 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.2, n.1, p.85-90, jan-mar 2023 Doença hepática gordurosa João Marcello de Araujo Neto e Aline Moura Ferraz Pereira possível detectar estágios iniciais de fi- brose quando o tratamento adequado pode evitar que o paciente evolua para fibrose avançada/cirrose. Na prática diária, as elastografias hepáticas ultrassônicas são as mais utilizadas pela simplicidade. São métodos não invasivos, indolores e de boa precisão quando realizados por pro- fissionais experientes. As elastografias por ressonância magnética em geral são reservadas para pacientes com casos du- vidosos através dos métodos ultrassônicos ou que já tem indicação de realizar RM por outra indicação. A biópsia hepática ainda é considerada padrão ouro na avaliação da doença hepá- tica gordurosa, mas é indicada na prática para casos especiais, uma vez que se trata de método invasivo com possibilidade de complicações. É uma ferramenta muito útil em pacientes em que se tem dúvida sobre a etiologia da doença hepática e também muito utilizada para aqueles que irão in- gressar em trials clínicos. Ainda é o único método capaz de diferenciar a esteatose da esteato-hepatite. A progressão da história natural da doença hepática gordurosa para esteato-he- patite e fibrose pode acontecer mesmo em pacientes com enzimas hepáticas normais. É preciso desfazermos o conceito de que pa- cientes com esteatose à ultrassonografia e enzimas hepáticas normais não necessitam de avaliação hepática. Estima-se que 1/3 dos pacientes que evoluem para cirrose po- dem ter enzimas hepáticas dentro da faixa da normalidade ao longo de toda a vida. O guideline da Associação Americana de Diabetes deixa claro que nos pacientes com pré-DM ou DM, deve-se realizar avaliação hepática em todo paciente com a presença de esteatose em métodos de imagem ou aumento de enzimas hepáticas. (3) O pilar principal do manejo dos pacien- tes com doença hepática gordurosa ainda é a perda de peso e a mudança do estilo de vida. Hoje, sabemos que a perda de peso maior do que 10% do peso corporal é capaz de reduzir ou normalizar o conteúdo de gordura no fígado, melhorar ou eliminar a esteato-hepatite e, até mesmo, promover redução da fibrose hepática. Além disso, atualmente existem trata- mentos farmacológicos capazes de melho- rar a quantidade de gordura hepática e a esteato-hepatite. Os medicamentos com comprovação de obtenção destes desfechos são a vitamina E, pioglitazona e análogos de GLP-1. Existem estudos menores com os inibidores de SGLT2 que são promisso- res. As indicações de uso destes fármacos com objetivo de melhorar os desfechos da doença hepática gordurosa são para os pacientes que têm comprovação de estea- to-hepatite e/ou fibrose. Para pacientes com esteatose sem esteato-hepatite e/ou fibrose, deve-se focar na mudança no estilo de vida. Para casos de obesidade grave, a ci- rurgia bariátrica pode ser empregada com bons desfechos hepáticos. Atual- mente, mesmo pacientes com cirrose (sem

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