Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 4 - 2022
81 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.4, p.74-85, out-dez 2022 Microbioma e doença pulmonar obstrutiva crônica Hisbello da Silva Campos O MICROBIOMA NO TRATAMENTO DA DPOC Até que passássemos a compreender que disbioses estavam associadas à gê- nese da DPOC, seu tratamento era focado na redução dos sintomas e na prevenção/ tratamento das exacerbações. (57) A escolha da terapia farmacológica inicial da DPOC é baseada no agrupamento dos doentes em quatro grupos: A, B, C e D, de acordo com a frequência/gravidade das exacerbações e a intensidade da dispneia, segundo a proposta do GOLD/OMS, (36) seguida pela maioria. A proposta não pode ser seguida de modo es- tático, mas sob a forma de ciclos de manejo medicamentoso, dada a variação do curso clínico da DPOC e o número potencialmente elevado de comorbidades associadas que afetam a sua morbimortalidade. (58) A última mudança relevante no trata- mento da DPOC foi a inclusão da terapia tripla (broncodilatador beta-2 adrenérgico de longa duração – LABA, broncodilatador anticolinérgico de longa duração – LAMA e corticosteroides inalatórios combinados num único sistema de inalação). Essa mo- dalidade terapêutica está indicada apenas para os pacientes de DPOC com história de exacerbações frequentes/graves e/ou dispneia apesar do uso da dupla bronco- dilatação (LABA/LAMA). (36) Apesar de a recomendação especificar o público-alvo da terapia tripla, revisão recente indicou que ela é usada por uma proporção significativa de pacientes com DPOC que não estão compreendidos nas recomendações referentes à história de exa- cerbações ou insucesso da terapia dupla. (59) Outro biomarcador recentemente intro- duzido para definir a indicação do corticos- teroide inalatório no esquemamedicamento- so é a contagem de eosinófilos sanguíneos. A indicação do corticosteroide inalatório objetiva a prevenção de exacerbações na DPOC. Entretanto, conforme já comentado, uma proporção significativa de doentes com baixo risco de exacerbação é tratada com corticosteroide inalatório. Esse uso indevido pode estar associado ao risco de tuberculose e doenças micobacterianas, diabetes, fratu- ras, candidíase oral e disfonia, e aumentar o risco para pneumonia em 41%. (60) De agora em diante, na medida em que os mecanismos patogênicos das disbio- ses na DPOC forem sendo esclarecidos, possivelmente biomarcadores diagnósti- cos e procedimentos direcionados para a correção das disbioses e efetivos sobre os fatores epigenéticos serão incorporados às abordagens terapêuticas. Até o momento, entretanto, não está claro se a modulação do microbioma pulmonar pode trazer efeito terapêutico benéfico sobre a DPOC. (61) CONCLUSÕES A interação entre o microbioma e o hospedeiro representa a próxima fronteira na Medicina. Inegavelmente, desvendar o papel do microbioma pulmonar na DPOC ajudará a esclarecer os mecanismos envol- vidos na gênese e na progressão da doença.
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