Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 4 - 2022

33 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.4, p.31-44, out-dez 2022 Nefrotoxicidade – Aspectos Básicos Caroline Azevedo Martins e Mauricio Younes-Ibrahim com as definições empregadas e com as características cinéticas dos próprios me- dicamentos. As classes de medicamentos mais comumente relacionadas à nefroto- xicidade são antibióticos, medicamentos imunossupressores antirrejeição, agentes antivirais, agentes anti-inflamatórios não esteroidais, contrastes radiológicos e qui- mioterápicos. (4) A maioria dos estudos identifica a ne- frotoxicidade através do aumento sérico da creatinina em um período de 24 a 72 horas de exposição ao medicamento e considera tanto o aumento absoluto de 0,5mg/dL ou de elevação de 50%da creatinina basal. O diag- nóstico de nefrotoxicidade baseado apenas na creatinina apresenta muitas limitações, pois não contempla as especificidades da DRID. Em um cenário de função renal flu- tuante ou naqueles pacientes que recebem terapias de substituição renal, é mais difícil reconhecer a DRID. Um exemplo comum é a IRA associada a sepse, diante da dificuldade em reconhecer se um antibiótico está cau- sando lesão adicional a um rim suscetível já submetido a outras lesões. O reconheci- mento da DRID também é complicado pelo fato do mecanismo de lesão renal e o período inicial de estabelecimento da lesão variarem de acordo com o medicamento em uso, além de alguns fármacos poderem causar lesões celulares por mais de um mecanismo. Por exemplo, anti-inflamatórios não hormonais podem promover IRA tanto por alterações hemodinâmicas como por nefrite intersticial aguda (NIA), ou ainda causar proteinúria na faixa nefrótica, esta última decorrente de lesão glomerular. (5-8) Definições de DRID foram propostas baseadas em quatro fenótipos: 1) lesão renal aguda; 2) distúrbio glomerular; 3) distúrbio tubular e 4) nefrolitíase/cristalú- ria (Tabela 1). Para cada um dos fenótipos, alguns elementos críticos dos critérios causais devem ser atendidos: a) A exposição ao fármaco deve ocorrer pelo menos 24 horas antes do evento. b) Deve haver plausibilidade biológica para o fármaco causal, com base no mecanismo conhecido dos efeitos do fármaco, do seu metabolismo e da sua imunogenicidade. Dados completos (incluindo comor- bidades, exposições nefrotóxicas adicio- nais, exposição a agentes de contraste, procedimentos cirúrgicos, pressão ar- terial, produção de urina) em torno do período de exposição ao medicamento são necessários para contabilizar ris- cos concomitantes e exposições a outros agentes nefrotóxicos. A força da relação entre o fármaco supostamente causador da nefrotoxicidade e o fenótipo apresen- tado deve ser baseada na duração da exposição ao fármaco, nos critérios de nefrotoxicidade atendidos e no tempo de evolução da lesão. (9)

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