Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 4 - 2022

36 Nefrotoxicidade – Aspectos Básicos Caroline Azevedo Martins e Mauricio Younes-Ibrahim Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.4, p.31-44, out-dez 2022 EPIDEMIOLOGIA O conhecimento da epidemiologia da nefrotoxicidade concentra-se predominan- temente na IRA induzida por fármacos. Alguns estudos prospectivos de coorte documentaram a frequência de nefroto- xicidade induzida por medicamentos em aproximadamente 14% a 26% em popula- ções adultas. (16,17) Em 2011, um estudo re- trospectivo de caso-controle em pacientes pediátricos hospitalizados não críticos, com idade de 1 dia a 18 anos, demonstrou que 16% dos eventos hospitalares de IRA eram atribuíveis a um único medicamento nefrotóxico e que quanto maior o número de fármacos nefrotóxicos, maior o risco de desenvolver IRA. (18) A epidemiologia dos diferentes distúr- bios tubulares não é clara, pois faltam padrões de definição, e a maioria dos tra- balhos publicados documentam apenas a IRA como disfunção tubular. A verdadeira incidência de nefrotoxicidade causando distúrbios tubulares é subestimada, uma vez que estes não são devidamente investi- gados e apenas os casos que culminam com grandes alterações funcionais, indicados pela elevação da creatinina sérica (CrS), são identificados. (4) Condições específicas, como o uso fre- quente de tenofovir, depertam maior aten- ção para as lesões tubulares e foram obser- vadas com frequências de 12% a 22% dos indivíduos tratados. (19,20) Lesão glomerular é uma forma incomum de nefrotoxicidade e a maior parte das descrições de literatura se limita a relatos de casos ou pequenas séries de casos. No entanto, o emprego de novos agentes quimioterápicos mostra que eles estão cada vez mais associados à nefrotoxicidade. (4) FATORES DE RISCO A determinação do risco de nefrotoxi- cidade é aplicada potencialmente a cada medicamento, com base na farmacologia conhecida. A partir da estimativa, o risco previsível precisa ser individualizado para cada paciente. Os eventos adversos induzidos por me- dicamentos são classificados em duas cate- gorias: 1) Dose-dependentes e 2) Reações idiossincráticas. (21) Na DRID essa catego- rização é relevante, pois os mecanismos de toxicidade são diferentes. As reações dependentes de dose são previsíveis a partir da farmacologia co- nhecida do medicamento. Por exemplo, o risco de nefrotoxicidade induzida por aminoglicosídeos aumenta com doses mais altas e com a maior duração do tratamento. (15-22) A nefrite intersticial causada ( p.ex ., por inibidores da bomba de prótons) (23-25) é uma reação idiossincrática imprevisível, que provavelmente não pode ser evita- da ou minimizada diante do emprego do medicamento. O risco conhecido de DRID para di- ferentes fármacos é computado através de estudos retrospectivos, relatórios de eventos adversos dos ensaios clínicos ou

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