Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 3 - 2022

119 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.3, p.112-123, jul-set 2022 Angina de peito refratária: Transplantar ou não transplantar, eis a questão Tayane Vasconcellos Pereira et al. Pulmão (ISHLT) têm aumentado constan- temente, especialmente nos últimos anos, commais de 6.000 transplantes de coração realizados anualmente em todo o mundo. (2) O transplante cardíaco tornou-se a terapia de escolha para pacientes selecionados, com sobrevida de 1 ano de quase 90% e meia- -vida condicional (o momento em que 50% dos pacientes que sobreviveram ao primeiro ano ainda estão vivos) de 13 anos. (2) No Brasil, os números de transplantes cardíacos realizados também demons- tram crescimento até 2019 (pré-pandemia COVID-19), mas os resultados de sobre- vivência são inferiores aos evidenciados pelo registro da ISHLT (3) e a morbidade e mortalidade de curto, médio e longo prazos também variam entre os diferentes centros que reportam voluntariamente ao registro brasileiro de transplante de órgãos. (4,5) O transplante cardíaco é o tratamen- to de escolha para muitos pacientes com insuficiência cardíaca (IC) terminal que permanecem sintomáticos mesmo sob a terapia médica ideal. (6,7,8) Apesar de a car- diomiopatia isquêmica estar entre as prin- cipais etiologias que geram a indicação de transplante cardíaco, pacientes com doença arterial coronariana obstrutiva sem disfunção ventricular não são comu- mente referenciados para programas de transplante cardíaco. (9) Isso porque quais- quer condições cardíacas reversíveis ou cirurgicamente passíveis de tratamento devem ser tratadas antes que o transplante seja considerado. Este último é importante para garantir a candidatura ao transplan- te cardíaco além de reservar órgãos para os pacientes mais necessitados. Apesar de alguns desses pacientes com doença coronariana obstrutiva refratariamente sintomática, sem exequibilidade técnica de revascularização do miocárdio e sem disfunção ventricular, serem considerados por diretrizes nacionais e internacionais como potenciais candidatos ao transplante cardíaco não há consenso sobre a indicação do transplante, objetivação de refratarieda- de clínica nem do que se considera inexe- quibilidade técnica para revascularização do miocárdio. (9,10) O paciente deste relato de caso foi avaliado por diferentes programas de cirurgia cardíaca e transplante cardíaco antes de ser avaliado por nosso programa. Dois cirurgiões cardíacos de programas diferentes contraindicaram a cirurgia de revascularização do miocárdio (devido a complexidade anatômica da doença coro- nariana) e um programa de transplante cardíaco aceitou sua candidatura para transplante combinado coração-rim. A mais recente diretriz da ISHLT (7) considera o diabetes com mau controle glicêmico persistente (hemoglobina glico- silada [HbA1c] >7,5%) uma contraindicação relativa para transplante cardíaco (Classe IIa, Nível de Evidência: C). O paciente do caso em questão apresentou-se comHbA1c de 8,8% adicionando uma camada de com- plexidade para a tomada de decisão sobre a melhor forma de tratamento. Como ficou evidenciado em sua evolução, o cuidado

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