Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 3 - 2022

98 Diagnóstico e estratégia terapêutica na depressão resistente ao tratamento Walter dos Santos Gonçalves et al. Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.3, p.94-104, jul-set 2022 Além desses fatores aqui citados, diver- sas características clínicas do diagnóstico de depressão têm sido associadas ao maior risco de desenvolvimento de DRT. A pre- sença de sintomas melancólicos, o início precoce do transtorno, a recorrência de episódios e a maior gravidade estão asso- ciadas à resistência farmacológica. Outros fatores independentes como a necessidade de hospitalização prévia, a ausência de res- posta terapêutica ao primeiro ensaio clínico com antidepressivo e o risco de suicídio também estão associados ao surgimento de DRT. (12) TRATAMENTO Tratamento farmacológico A base do tratamento dos pacientes com depressão é a utilização dos medicamen- tos antidepressivos. Existem atualmente diversas classes de antidepressivos, sendo estes divididos principalmente pelo seu mecanismo de ação principal. Os mais utilizados são os denominados inibido- res seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), composto por medicamentos como fluoxetina, sertralina, escitalopram, pa- roxetina. Outra classe bastante utilizada atualmente é a dos inibidores de recapta- ção de serotonina e noradrenalina (IRSN), tendo como representantes a venlafaxina, a desvenlafaxina e a duloxetina. Outras classes de medicamentos também são utili- zadas no tratamento da depressão. Apesar da ampla variedade de medicamentos, todos possuem eficácia comprovada no tratamento de depressão, com pouca di- ferenciação entre eles. (13) Nos casos de falha terapêutica ao uso do antidepressivo, caracterizando-se, por- tanto, um quadro de DRT, os principais protocolos de tratamento sugerem quatro estratégias de ação: (1) a otimização da dose; (2) a troca de antidepressivo; (3) a combinação e/ou (4) a potencialização (Figura 1). A otimização de dose consiste em utilizar doses mais elevadas do anti- depressivo vigente, com o intuito de obter maior resposta terapêutica. A troca de um antidepressivo por outro, apesar de fre- quentemente utilizada, possui resultados conflitantes na literatura, carecendo de maiores validações. No entanto, alguns guias internacionais, como o Canadian Network for Mood and Anxiety Treat- ments (CANMAT), ainda sugerem esta estratégia. (14–17) A estratégia de combina- ção de antidepressivos, apesar de tam- bém apresentar resultados conflitantes na literatura, é muito utilizada na prática clínica. Os resultados mais promissores estão associados à combinação de fár- macos com mecanismos distintos, princi- palmente em associação de ISRS e IRSN com mirtazapina. (18,19) Em contrapartida à estratégia de combinação, a potencialização (associação de antidepressivos com outros psicofármacos) possui dados mais consis- tentes na literatura. Os medicamentos com maior nível de evidência utilizados são o lítio (nível terapêutico sérico), quetiapina

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