Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 3 - 2022

53 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.3, p.49-93, jul-set 2022 Doença associada à infecção pelo Clostridioides difficile . Atualização Nelson Gonçalves Pereira et al. a colonização pode alcançar até 50%, entre- tanto declina progressivamente até atingir menos de 5% principalmente após os 5 anos de idade, sendo, portanto, fontes de infecção bastante prováveis. (15) A transmissão basicamente é feita pes- soa a pessoa via fecal-oral. O contato com objetos e utensílios contaminados pelos es- poros e posterior deglutição é o mecanismo preponderante. O Cd é comumente encon- trado em superfícies em geral, como mesas, cadeiras, camas, mobiliário, dispositivos e instrumental médico como estetoscópio, esfigmomanômetro, termômetros, roupas e calçados, no solo e nos sanitários e tor- neiras das enfermarias, creches, tornando a contaminação fácil. A propagação do Cd pelas mãos dos profissionais de saúde é considerada um mecanismo importante e evitável pela sua lavagem adequada e segui- mento das precauções básicas. Os pacientes próximos de doentes com DCd e compa- nheiros de mesma enfermaria ou mesmo quarto têm maior risco de contaminação. Já foi demonstrada a presença das formas dormentes do Cd em alimentos como carne processada, saladas e na água; este pode ser mais um mecanismo de transmissão. Demonstrou-se que a cepa NAP1/BI/027 é capaz de produzir uma quantidade muito grande de esporos, o que pode explicar a sua disseminação por muitos países e o seu envolvimento em alguns surtos hospitalares da DCd; a cepa hipervirulenta NAP1/078 tem sido mais associada a infecções adqui- ridas na comunidade. (16) Cerca de 90% dos indivíduos com DCd apresentam um ou mais fatores de risco associados que facilitam o seu surgimento, como pode ser visto no Quadro 1. Os pa- cientes que adquirem a DCd no hospital são na maioria das vezes idosos, commúltiplas comorbidades em uso de antibióticos. O uso de antibióticos é o fator mais comum, estando presente em até 96% dos casos. Eles podem romper o equilíbrio da microbiota intestinal, principalmente se atuam em Gram-negativos e anaeróbios, criando um ambiente intestinal propício ao seu desenvolvimento, diminuindo a resis- tência à colonização pelo Cd, o que facilita a transformação dos esporos em formas vegetativas, e diminuindo a competição para a sua instalação. Em princípio, todos os antibióticos podem causar a DCd, entre- tanto as quinolonas, as cefalosporinas de largo espectro, a clindamicina, as penici- linas de largo espectro e os carbapenemas são os mais envolvidos, conforme pode ser visto no Quadro 2. Parece ser mais comum após os tratamentos prolongados, em geral de mais de 10 dias, e quando se usam associações de antibióticos. É mais comum que as manifestações clínicas da DCd se iniciem ainda durante o curso do antibiótico facilitador, contudo os trabalhos demonstram que o risco aumentado de DCd ainda persiste por 1 a 3 meses após a inter- rupção do antimicrobiano; um trabalho na Holanda mostrou que o risco ainda era de 7 a 10 vezes maior até 1 mês após o térmi- no do tratamento antibiótico. A profilaxia

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