Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 3 - 2022

EDITORIAL | EDITORIAL 6 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.3, p.6, jul-set 2022 O caminho deve ser diferente A different path must be drew José Galvão-Alves | Editor-chefe da Revista Medicina, Ciência e Arte As lideranças médicas devem alicerçar-se em dois pilares: o comportamento ético e o conhecimento acadêmico. Ambos são indissociáveis, pois de nada valerá um grande conteúdo se não for destinado a ações que tenham por princípio o bem acolher e o atender aquele que sofre e, também, será inoportuno um pro- fissional responsável e dedicado, mas que não domina a ciência médica. Devemos educar os estudantes de medicina com olhar para essas duas vertentes, estimulando-os a es- tudar e orientando-os a bem relacionar-se com os pacientes e seus familiares. O médico terá que ter uma formação diversificada em doenças e doentes, capacitando-se a entender o sofrimento alheio, independente de sua origem ou condição social. A partir dessa perspectiva, o cuidado com o próximo, respeitando-se sua cultura e origem, torna nossos médicos mais humanos e conscientes da importância de seus atos. A formação deveria contemplar um período obrigatório em unidades carentes, onde o convívio com uma realidade distinta da sua poderia ajudá-los a melhor entender o outro, suas diferenças e limites. Da mesma forma, deveriam ser oferecidos estágios obrigatórios em áreas rurais, o que propiciaria familiarização com o homem do campo, seus costumes, cultura e mazelas. Seis anos de ensino de graduação, mais três a cinco de residência médica emgrandes centros, certamente não despertam esses estudantes a buscar o interior do país como opção profissional. O desconhecimento os levará à insegurança, ao receio de não se adaptar e até a uma rejeição da atividade no interior. As escolas médicas deveriam, por lei, “interiorizar” os graduandos sob orientação de preceptores treinados e adaptados à região. Exigir que médicos procurem localidades onde não existammínimas condições de atendimento, culturas distantes de sua formação e de seus ideais profissionais é o mesmo que exigir um grau de abnegação que não se deve esperar da imensa maioria; logo, destinando-se ao insucesso. Devemos fomentar o desejo pelo exercício da medicina no interior, mostrando suas riquezas culturais, seu estilo seguro e tranquilo de vida e fornecendo condições profissionais nas quais médicos, enfermeiras e outros colegas da equipe de saúde se interessem por uma experiência nova, mas não por uma aventura. Um segundo aspecto, que deveria ser programado numa ação conjunta das Sociedades Médicas, Conselhos Regionais e Secretarias de Saúde, seria a interiorização do conhecimento, em que colegas mais experientes organizariam, periodicamente, cursos e jornadas de atualização em áreas menos atendidas pela educação continuada. Isso evitaria que localidades com poucos médicos não fossem privadas desses eventos e não teriam que se deslocar para os grandes centros para se atualizar. A saúde ė um bem maior, um direito universal, e deve ser tratada com cuidado extremo e atenção espe- cial. Precisamos recuperar a relação afetiva e respeitosa entre médicos e pacientes. A perda de confiança, os interesses mercantilistas e o desprezo aos menos favorecidos têm colocado profissionais de saúde e pacientes em lados opostos. A quem interessa tal desagregação? Por que não conseguimos unir interesses tão óbvios? Talvez estejamos investindo demasiado em questões materiais e nos distanciando da riqueza que envolve uma ação solidária, um ouvido atento e um experiente conselheiro. Imitamos culturas falidas e mesquinhas e esquecemos nossas riquezas e sabedorias. Devemos unir médicos e população, nossos caminhos são os mesmos. Pegamos o caminho errado. Precisamos ter calma, sensatez e a nobreza para reconhecer e reiniciar.

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