Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 3 - 2022

55 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.3, p.49-93, jul-set 2022 Doença associada à infecção pelo Clostridioides difficile . Atualização Nelson Gonçalves Pereira et al. Os inibidores da bomba de prótons (IBP) acompanham-se de um risco aumentado de DCd, particularmente quando associado ao uso de antibióticos. Muitos trabalhos docu- mentam este fato, entretanto discute-se a intensidade do risco; em recente metanálise demonstrou-se uma ocorrência de 1,7 a 2,1 vezes maior de DCd; refere-se ainda uma maior frequência de formas recorrentes nestes pacientes. Embora os esporos tenham resistência ao pHácido, as formas vegetativas sobrevivemmelhor como pHmais alcalino. A utilização de antagonistas dos receptores H2 também tem um risco aumentado, correla- cionado à supressão ácida e às modificações principalmente na microbiota da parte alta do trato digestivo. Autilização simultânea de anti-inflamatórios não hormonais, opiáceos e de laxativos poderia aumentar este risco, na opinião de alguns autores. A idade acima de 65 anos tem risco 10 vezes maior de apresentar a DCd quan- do comparada a adultos jovens; quanto maior a idade, maior o risco. As razões parecem múltiplas, como a presença de comorbidades, internações mais comuns e mais prolongadas, o uso mais intenso de antibióticos, os medicamentos imunossu- pressores em geral, diminuição da acidez gástrica com a idade, redução da resposta imunitária às toxinas do Cd, a menor ca- pacidade fagocítica dos polimorfonucleares em relação ao Cd, presença de gastrostomia ou de sonda nasogástrica, proveniência de asilo de idosos principalmente os de longa permanência, entre outras, levando a um risco cumulativo elevado. A gravidade e a letalidade também são mais elevadas nos idosos. Nos casos descritos na comunidade, sem os fatores de risco tradicionais não há uma predominância clara dos idosos. (19) As cirurgias também podem elevar a frequência da DCd, particularmente em idosos, imunodeprimidos, com neoplasias malignas, cardiopatias, doenças respira- tórias crônicas e diabetes. As cirurgias gastrointestinais, incluindo as colorretais e gastroesofágicas, e as cirurgias de am- putação são as mais citadas nas revisões. A permanência no hospital prolongada por mais de 10 dias também eleva a incidência. As cirurgias de emergência têm risco maior que as eletivas. As cirurgias por traumas, particularmente quando necessitamde tera- pia intensiva, também têm ocorrência maior de DCd. As cirurgias bariátricas, embora com alguma variação com a técnica utili- zada, são também de maior risco de DCd, lembrando que a obesidade com IMC > 35 é um fator de risco independente para o seu aparecimento. A presença de gastrostomia ou sonda nasogástrica está relacionada a uma pior evolução da DCd. As cirurgias endoscópicas com a utilização de profilaxia antibiótica também são citadas. (18,21) A doença inflamatória intestinal (DII) se associa comumente à DCd; o acome- timento mais extenso do cólon, o uso de corticoides e de imunomoduladores, as internações repetidas e prolongadas, o uso de antibióticos para as complicações infec- ciosas, os casos de tratamento cirúrgico, são

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