Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 2 - 2022
24 Bases racionais da antibioticoterapia nos pacientes idosos. Atualização Nelson Gonçalves Pereira et al. Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.2, p.7-48, abr-jun 2022 clavulanato, eritromicina, ampicilina, clin- damicina, cefalosporinas, além de outros, particularmente quando têm largo espectro e atuam em anaeróbios. O primeiro conjunto de DAA é relacio- nado ao efeito direto nos intestinos causado por alguns antibióticos. A eritromicina tem efeito agonista nos receptores da motilina, acelerando o esvaziamento gástrico, pro- duzindo contração do antro, duodeno e da vesícula biliar. A eritromicina atua na musculatura lisa do duodeno e interfere na contratilidade intestinal. Estas alte- rações são correlacionadas com a comum intolerância digestiva à eritromicina, ma- nifestada principalmente por vômitos, dor abdominal e diarreia. A amoxicilina + cla- vulanato também estimula o peristaltismo intestinal, causando comumente diarreia. Este efeito colateral é devido principal- mente ao clavulanato e aumenta com as doses mais elevadas do medicamento. A amoxicilina isoladamente não parece ter ação significativa na motilidade intestinal, embora possa também causar DAA. Em indivíduos com uma alimenta- ção normal, cerca de 70g de carboidratos chegam por dia ao cólon. Esta fração é composta principalmente por carboidratos não digeridos no delgado, nas fibras, nos açúcares não absorvíveis e nos oligossaca- rídeos. Estes alimentos são quebrados por várias espécies bacterianas existentes no cólon, sobretudo anaeróbios, mais no cólon esquerdo que no direito. Deste processo re- sulta a formação de ácidos graxos de cadeia curta e gases, particularmente acetatos, butirato e propionato, e ácidos orgânicos. Em condições normais a fermentação dos hidratos de carbono é completa ou quase completa. Estes ácidos graxos têm função nutriente e exercem um papel trófico im- portante na mucosa colônica, sendo usados como fonte de energia pelos colonócitos. A diarreia pode ocorrer quando a capacidade da microbiota de fermentar é ultrapassada por um excesso de ingesta de carboidratos, levando a um acúmulo, juntamente com ácidos graxos remanescentes e cátions li- gados a ácidos graxos aniônicos; a diarreia é resultante da hiperosmolaridade. Admi- te-se que os antibióticos, principalmente os que atuam em anaeróbios, ao diminuírem a microbiota intestinal interferem neste processo, tudo indicando que podem pro- duzir diarreia por este mecanismo. Em seres humanos existem dois ácidos biliares ou sais biliares primários: os áci- dos cólico e o quenodesoxicólico. Eles são produzidos pelos hepatócitos, armazenados na vesícula biliar e excretados na bile, conjugados com a glicina e a taurina; a maior parte exerce a sua ação no intestino delgado, principalmente na digestão das gorduras, sendo reabsorvidos cerca de 90% no íleo distal. A parte dos ácidos biliares que chegam ao cólon é degradada por en- zimas bacterianas da microbiota residente, resultando a formação do ácido desoxicólico e o ácido litocólico. Os ácidos biliares livres ou conjugados têm ação catártica na mucosa colônica pela indução da secreção de água
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