Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 2 - 2022

56 Fibrilação Atrial – diagnóstico, fisiopatologia e terapêutica Eduardo B. Saad e Charles Slater Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.2, p.49-62, abr-jun 2022 ventrículo esquerdo. Nesses pacientes, des- de que sem sinais de repercussão hemodi- nâmica, devem ser utilizados fármacos cro- notrópicos negativos, que atuam no nódulo atrioventricular, como betabloqueadores ou antagonistas dos canais de calcio. Em pacientes ainda sem uso de anticoagulação eficaz e com sintomas pela alta resposta, o início destes medicamentos permitirá o controle dos sintomas até que medidas para reversão segura ao ritmo sinusal possam ser tomadas. Manutenção do ritmo sinusal: drogas antiarrítmicas A utilização de drogas antiarrítmicas (DAAs) para prevenção de novos surtos de FA deve fazer parte da primeira estratégia de tratamento. No entanto, a eficácia das DAAs na manutenção do ritmo sinusal é modesta, não eliminando a possibilidade de recorrências da FA no futuro. Seus efeitos colaterais não são raros, e em al- guns casos podem levar à descontinuação do tratamento. A propafenona é um bloqueador dos canais de sódio e a única DAA do grupo IC disponível no Brasil. Apresenta eficácia similar à do sotalol e inferior à da amio- darona. Pode também ser utilizada para estratégia de reversão ao ritmo sinusal, em dose única ( pill-in-the pocket ). As contrain- dicações para sua utilização são a presença de IC e cardiopatia isquêmica, em razão dos riscos de efeitos pró-arrítmicos. Outra complicação associada ao uso deste fármaco é a possibilidade de conversão da FA em flutter atrial (que pode ser mal tolerado hemodinamicamente devido à condução atrioventricular acelerada). O sotalol é um betabloqueador com pro- priedades do grupo III (prolongamento do período refratário atrial) e com eficácia inferior à da amiodarona, especialmente em pacientes com cardiomiopatia dilatada não isquêmica. Similarmente à propafenona, é contraindicado nos portadores de disfun- ção ventricular severa, asma brônquica e insuficiência renal. Alguns fatores se associam a maior risco de pró-arritmia relacionada ao sotalol, como sexo feminino, hipertrofia ventricular esquerda significa- tiva, bradicardia sinusal, disfunção renal e distúrbios eletrolíticos (hipocalemia/ hipomagnesemia). Não é utilizado para reversão ao ritmo sinusal. A amiodarona é o fármaco de melhor eficácia na prevenção da FA, por apresen- tar efeitos eletrofisiológicos mais amplos, como antagonista de cálcio, betabloquea- dor, discreto efeito bloqueador dos canais de sódio e prolongamento do período refra- tário atrial. Aumenta a taxa de sucesso da cardioversão elétrica e pode ser utilizada para reversão ao ritmo sinusal. Diferen- temente dos outros agentes antiarrítmi- cos, pode ser utilizada com segurança em portadores de disfunção ventricular. Nos pacientes com cardiomiopatia isquêmica sem disfunção significativa apresenta efi- cácia similar à do sotalol.

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