Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 2 - 2022

52 Fibrilação Atrial – diagnóstico, fisiopatologia e terapêutica Eduardo B. Saad e Charles Slater Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.2, p.49-62, abr-jun 2022 também acomete corações estruturalmente normais, correspondendo a 20% a 30% dos casos. A fisiopatologia da FA é compreendida atualmente como uma interação entre ga- tilhos iniciadores, na forma de “disparos” rápidos oriundos das veias pulmonares, e um substrato miocárdico atrial alterado, que é responsável pela manutenção da arritmia. Em pacientes com FA paroxística, esses gatilhos parecem exercer um papel dominante, enquanto em pacientes com a forma persistente e permanente o substrato miocárdico parece ter um papel importante. Os gatilhos iniciadores que se originam de “bandas” de tecido muscular atrial que se estendem ao interior das veias pulmona- res têm papel fundamental na iniciação dos episódios de FA em humanos, (5) sendo também encontrados, muito embora menos frequentemente, na veia cava superior, no ligamento de Marshall e em outros locais nos átrios direito e esquerdo. As alterações do substrato miocárdico atrial parecem contribuir para a manuten- ção da fibrilação atrial através de múltiplos circuitos de reentrada, utilizando sítios de microfibrose como áreas de barreira elétrica. (6) Condições que propiciem o remo- delamento atrial, como valvopatias, doença reumática, cardiomiopatias ou a própria fi- brilação atrial persistente, são importantes indutores de microfibrose atrial. AFApor si só também é capaz de causar alterações no substrato elétrico miocárdi- co, encurtando o período refratário atrial, remodelando negativamente a eletrofisiologia iônica celular, perpetuando a arritmia. (7) Es- ses mecanismos se acentuam já nas primei- ras horas após a indução de fibrilação atrial, podendo ser minimizados após a reversão ao ritmo sinusal, mas podem ser de difícil reversão empacientes comFApersistente. (8) FATORES DE RISCO Os clássicos fatores de risco associados à maior incidência de FA são: envelhecimento, hipertensao, diabetes, doenca valvar, infarto do miocardio e insuficiencia cardiaca (IC). (9,10) Outros fatores de risco descritos são a apneia obstrutiva do sono (AOS), (11) obesida- de, (12) uso excessivo de bebidas alcoolicas, (13) exercicio fisico vigoroso, historia familiar e fatores geneticos, (14,15) sendo a obesidade, o consumo de álcool e a AOS fatores reversí- veis, importantes na abordagem terapeutica . ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO AFA e a principal fonte emboligênica de origem cardíaca de que se tem conhecimen- to, representando cerca de 45% dos casos quando comparada com outras cardiopatias. (16) Estratificar os pacientes sob risco ele- vado de eventos embólicos é fundamental para a prática clínica. (17) Originalmente, o escore CHADS 2 (Ta- bela 1) foi criado para estratificação de risco de eventos tromboembólicos. Através deste escore, os pacientes são classificados como de alto, moderado ou baixo risco. Os seguintes fatores de risco recebem um

RkJQdWJsaXNoZXIy ODA0MDU2