Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 2 - 2022

50 Fibrilação Atrial – diagnóstico, fisiopatologia e terapêutica Eduardo B. Saad e Charles Slater Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.2, p.49-62, abr-jun 2022 compatíveis com redução aguda do débito cardíaco, em virtude da repercussão hemo- dinâmica da perda da contração atrial. Não raro, entretanto, alguns pacientes podem apresentar-se totalmente assintomáticos. Em casos extremos, a manifestação clí- nica durante a arritmia pode ser a instabi- lidade hemodinâmica (presença de angina pectoris , infarto do miocárdio, choque ou edema pulmonar secundários à arritmia). A importância desta forma de apresenta- ção reside na necessidade de tratamento imediato, sob pena de rápida degeneração do quadro clínico. A cardioversão elétrica sincronizada imediata está indicada nestes casos, a fim de restabelecer o ritmo sinusal e estabilizar as condições clínicas. DIAGNÓSTICO A identificação de significativa irre- gularidade do ritmo cardíaco, através da ausculta ou da palpação do pulso arterial, muito embora não seja patognomônica, sugere fortemente o diagnóstico de FA. Diversos métodos suplementares podem identificar a irregularidade do ritmo ou a ausência de contração atrial, características da FA, mas o eletrocardiograma (e seus métodos correlatos, como o Holter) segue como padrão-ouro da identificação da FA. A ausência de onda P visível no traçado, bem como uma característica irregulari- dade da linha de base e a irregularidade dos intervalos RR são geralmente de fácil identificação (Figura 1). em geral. Em pacientes com doença valvar reumática, o risco aumenta em até 17 vezes. A FA apresenta importante repercussão na qualidade de vida, em especial em razão das suas consequências clínicas, dos fenô- menos tromboembólicos e das alterações cognitivas. É responsável por 1/3 das hospi- talizações por distúrbios do ritmo cardíaco nos Estados Unidos e estima-se que em 2050 a prevalência chegue a 15,9 milhões, com 50% desses pacientes apresentando idade superior a 80 anos , (3) caracterizando uma “nova epidemia”. Estudos recentes mostram que em pessoas acima dos 40 anos, uma a cada quatro irá desenvolver a arritmia ao longo da vida. No Sistema Único de Saúde (SUS), é a quinta maior causa de internação , sendo crucial uma visão epidemiológica e social clara do impacto dessa arritmia, com o objetivo de uso adequado de recursos em saúde e planejamento estratégico de políticas em saúde. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações clínicas da fibrila- ção atrial costumam variar muito de um paciente para outro. Alguns pacientes em FA podem apresentar queixas de palpitação relacionadas à frequência cardíaca elevada, como em uma fibrilação de alta resposta ventricular. Já outros podem ter sintomas resultantes da própria irregularidade dos batimentos cardíacos, sem necessaria- mente estarem com frequência elevada. Podem também se manifestar com sintomas

RkJQdWJsaXNoZXIy ODA0MDU2