Publicação científica trimestral do CREMERJ - número 2 - 2022

116 Fundamentos do diagnóstico e tratamento da gravidez molar Vanessa Campos et al. Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.2, p.113-130, abr-jun 2022 pacientes são mais propensas a desen- volver NTG pós-molar em seus episódios subsequentes. (35,36) Ainda que controverso, a dieta também tem sido sugerida como fator de risco para a gravidez molar, tendo em vista a alta frequência dessa anomalia em países onde a desnutrição é comum, podendo ex- plicar as diferenças globais na incidência da mola hidatiforme. Regiões com maior incidência de deficiência de vitamina A também apresentam maior incidência de gravidez molar. Estudos de caso-controle feitos nos Estados Unidos (EUA) e na Itália indicaram que o risco de MHC aumenta progressivamente com a diminuição da ingestão de gordura animal e caroteno, um precursor da vitamina A. Eles tam- bémmostraram uma relação inversa entre gordura animal e proteína animal na dieta e o risco de apresentar MHC. (37-39) Contu- do, estudo brasileiro não encontrou essa associação entre a dieta e a ocorrência de gravidez molar. (40) SINTOMATOLOGIA DA GRAVIDEZ MOLAR A apresentação clínica da mola hida- tiforme modificou-se com a incorporação da ultrassonografia (US) no diagnóstico da gravidez, antecipando o reconheci- mento da gravidez molar ainda no pri- meiro trimestre da gestação. (4,41,42) Isso faz com que cerca de 50% das pacientes com esse diagnóstico na gravidez estejam assintomáticas, tornando raras algumas complicações clínicas, como pré-eclampsia precoce, hipertireoidismo e insuficiência respiratória. Todavia, o reconhecimento da sintomatologia associada à gravidez molar é ainda fundamental para a suspeição clí- nica de casos não avaliados pelas técnicas biofísicas. Nesse sentido, qualquer mulher gestante que apresente hemorragia genital, útero aumentado para a idade gestacional, cistos tecaluteínicos dos ovários, pré-e- clampsia grave ultraprecoce, hiperêmese gravídica, hipertireoidismo e complicações pulmonares na gestação deverá ser minu- ciosamente avaliada quanto à possibilidade de estar com gravidez molar. (43,44) A hemorragia genital indolor é o sin- toma mais prevalente da gravidez molar, acometendo cerca de 50% das pacientes. Esse sinal apresenta-se entre a 4ª e a 16ª semana de amenorreia, e mesmo quando a doença é descoberta precocemente o sangramento continua tendo prevalência elevada nos casos de MHC. Ainda assim, apenas 5% das pacientes vão apresen- tar anemia (hemoglobina < 9mg/dL). (45-47) Diante de hemorragia copiosa, estratégias de ressuscitação volêmica, hemoderivados e pronto esvaziamento uterino estabele- cerão as bases do controle clínico. Nos casos em que a paciente refere hemorragia de repetição, a administração de plasma fresco congelado pode ser útil, notada- mente nos casos em que há prolongamento do tempo de protrombina e do tempo de

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