Publicação científica trimestral do CREMERJ

55 Pancreatite autoimune José Galvão-Alves, Bruna Cerbino de Souza Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.1, p.45-58, jan-mar 2022 variam de acordo com o estágio da doença e sítio acometido. (39) No pâncreas, em casos avançados, pode haver perda irreversível da função exócrina, na qual há diminui- ção da secreção das enzimas pancreáticas associadas ao pronunciado colapso das células acinares, levando à má digestão dos substratos dietéticos, má absorção de nutrientes e, por fim, à desnutrição. Dis- função do pâncreas endócrino também pode ocorrer simultaneamente, motivando o diabetes tipo 3c ou pancreatogênico. Os corticosteroides constituem a terapia padrão na pancreatite autoimune, tendo eficácia comprovada em mais de 90% dos pacientes. (40) Antes de iniciá-los, no entanto, é fundamental que se obtenha bom controle glicêmico nos pacientes diabéticos, e na- queles que se apresentem com icterícia obs- trutiva que se preceda a drenagem biliar, a fim de prevenir episódios de colangite e também para coleta de material, de modo a afastar neoplasia. Outros cuidados a serem tomados antes de indicar a corticoterapia consistem na profilaxia de estrongiloidía- se disseminada e na realização de testes sorológicos para hepatite B – pesquisa de HbsAg e anti-HBc total. Pacientes com HbsAg reagente e com anti-HBc reagente isolado devem ser constantemente moni- torados com transaminases e HBV-DNA e receber profilaxia para reativação do HBV com entecavir até seis a 12 meses após progressão do desmame. A dose inicial recomendada de pred- nisolona para indução da remissão é de 0,6-1.0mg/kg/dia, a qual deve ser man- tida por duas a quatro semanas, seguida da redução gradual de 5mg a cada uma a duas semanas, até atingir a dose de ma- nutenção de 5-7,5mg/dia. (39) O período de manutenção varia. Enquanto nos países da Europa e nos Estados Unidos advoga-se que este seja de 12 semanas a seis meses, países asiáticos defendem um intervalo mais longo, entre seis meses a três anos. (41) Antes de proceder ao desmame do corti- coide, avaliação da resposta ao tratamento deve ser feita quanto ao alívio sintomático, dados de imagem, de preferência com o mesmo método empregado ao diagnóstico (TC, CPRM) e análise sérica dos níveis de IgG4, nos casos de PAI tipo 1. Nos casos em que a corticoterapia é contraindicada ou na ausência de resposta a esta medicação, o rituximab, um agente biológico anti-CD20, pode ser utilizado como agente de primeira linha na indução da remissão. (39) SEGUIMENTO A terapia de manutenção tem como fi- nalidade reduzir a incidência de recaídas, as quais costumam ser mais frequentes na PAI tipo 1 (30%-60%), enquanto no tipo 2 menos de 10% apresentam exacer- bações de sua condição. (15) Cada paciente deve ter sua atividade de doença avaliada individualmente e, após a suspensão dos esteroides, acompanhamento em três a quatro semanas deve ser instituído para melhor monitoração.

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