Publicação científica trimestral do CREMERJ

49 Pancreatite autoimune José Galvão-Alves, Bruna Cerbino de Souza Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.1, p.45-58, jan-mar 2022 apresentam doença restrita ao pâncreas e não exibem elevação de IgG4 em sua análise laboratorial, porém é comum a ocorrência de fator antinuclear (FAN) positivo. A manifestação clínica mais frequente é a dor abdominal, tipicamente de intensida- de leve, localizada em região epigástrica e/ou mesogástrica, que pode vir ou não acompanhada de elevação das enzimas pancreáticas. Concomitância entre PAI tipo 2 e as doenças inflamatórias intestinais (DII), especialmente a retocolite ulcerati- va (RCU), pode ser vista em até 30% dos pacientes. Estudo multicêntrico recente corrobora este dado, ao revelar que 2/3 dos pacientes com PAI tipo 2 avaliados apre- sentavam RCU, frequentemente proctite, enquanto 1/3 possuía doença de Crohn de fenótipo inflamatório. (17) Análise histológica exibe infiltração neutrofílica do lúmen e do epitélio dos ductos pancreáticos, dando origem à lesão granulocítica epitelial, característica da PAI tipo 2. (18) ALTERAÇÕES LABORATORIAIS Em indivíduos saudáveis, a subclasse 4 corresponde a menos de 5% do valor total de imunoglobulina G e usualmente se encontra abaixo de 140mg/dL. A PAI tipo 1 tem como marco sorológico a ele- vação dos títulos de IgG total (acima de 1800mg/dL) à custa de sua fração 4, e níveis maiores que o cut-off de 140mg/dL apresentam 86% de sensibilidade e 96% de especificidade para o diagnóstico da doença. (19,20) Embora a IgG4 elevada pos- sa nos orientar para a etiologia de uma pancreatite, devemos ter o cuidado na análise desta informação, pois um discreto aumento pode ser detectado em até 10% dos casos de adenocarcinoma pancreáti- co e também em outras condições, como pancreatite crônica, dermatite atópica, colangite biliar primária, pênfigo, colan- gite esclerosante primária, síndrome de Sjogren e asma. (21-23) Soma-se a isso o fato de que pequenas elevações da IgG4 podem ocorrer sem relação causal com a síndro- me da IgG4. Destaca-se também que, nesta condição, pequenas elevações de IgG4 não devem ser consideradas como indicativo isolado de atividade de doença. Todavia, na PAI tipo 2 os níveis de IgG4 são nor- mais. Outros marcadores bioquímicos de autoimunidade podem eventualmente ser detectados nos portadores de PAI, como fator antinuclear (FAN), fator reumatoide (FR), gamaglobulina, anticorpo antimi- tocôndria (AMA), anticorpo antimúsculo liso (AML), anticorpo antianidrase car- bônica, anticorpo antilactoferrina, embo- ra esses últimos não sejam amplamente disponíveis em nossa prática clínica. (24) Elevações de marcadores inf lamatórios inespecíficos, como a proteína C reativa (PCR) e a velocidade de hemossedimen- tação (VHS), enzimas pancreáticas, tran- saminases e bilirrubina total, à custa de fração direta, também costumam acom- panhar o quadro.

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