Publicação científica trimestral do CREMERJ

66 Cirrose hepática – abordagem diagnóstica e terapêutica Carlos Eduardo Brandão Mello Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.1, n.1, p.59-69, jan-mar 2022 Outras medidas indiretas e que têm se popularizado nos últimos anos são o em- prego da elastografia hepática transitória (fibroscan) e de marcadores bioquímicos indiretos de fibrose, como o APRI, Fibro- test, FIB-4, que na verdade são marcadores indiretos de fibrose hepática, na identifi- cação precoce de pacientes com doença hepática crônica avançada compensada (cACLD) com risco de desenvolver hiper- tensão portal clinicamente significativa. (6-15) Valores de elastografia hepática abaixo de 10 KPa descartam a possibilidade de cACLD; valores entre 10 e 15 KPa suge- rem cACLD e valores acima de 15 KPa são altamente sugestivos de doença hepática crônica compensada. Valores acima de 20 a 25 KPa em duas aferições realizadas em dias diferentes e em jejum têm sensi- bilidade e especificidade de 76% e 78%, respectivamente, em predizer a presença de varizes de esofago, principalmente nas hepatopatias crônicas de etiologia viral (Baveno VI, Franchis, 2015). (6-15) De igual modo, a avaliação endoscópica serve para a confirmação diagnóstica da síndrome de hipertensão portal, através da identificação de varizes esôfago-gástricas, gastropatia congestiva, como para a avalia- ção prognóstica de sangramento varicoso e não varicoso. Nos pacientes com doença hepática crônica compensada sem varizes esôfago-gástricas na avaliação inicial o controle endoscópico pode ser realizado a cada dois anos. Naqueles comvarizes de fino ou de pequeno calibre e doença hepática compensada o risco de sangramento admite- -se que seja de 7% em dois anos e o controle endoscópico deve ser anual (Figura 2). (6-15) Naqueles pacientes com doença des- compensada e varizes de médio a grosso calibre a recomendação é de controle seria- do semestral, uma vez que o risco de res- sangramento é de 30%. Além de se prestar para a avaliação diagnóstica, a endoscopia digestiva é excelente método terapêutico no manejo da hemorragia digestiva varicosa, com o emprego da ligadura elástica e da escleroterapia das varizes de esôfago. No estudo de D'Amico et al. (2003) o sangra- mento digestivo ativo visto à endoscopia digestiva foi considerado como preditor de ressangramento precoce, porémnão demor- talidade, que era muito mais relacionada à presença de falência hepática caracterizada por albumina baixa, presença de encefa- lopatia, bilirrubina elevada e presença de carcinoma hepatocelular. A mortalidade imediata relacionada ao episódio de san- gramento varicoso é estimada em 5% a 8%; de 30% a 50% após 6 semanas, e de 50% a 60% após ressangramento (Figura 3). (6-15) A profilaxia primária do sangramento digestivo consiste em prevenir o primeiro sangramento. Naqueles sem varizes ou com varizes incipientes ou de fino calibre e sem sinais preditivos de sangramento ( red signs ) a orientação é de observar e moni- torar o paciente ou até mesmo de iniciar betabloqueadores. Naqueles com varizes de médio e grosso calibre a recomendação é o emprego de betabloqueadores não seletivos

RkJQdWJsaXNoZXIy ODA0MDU2