BIOÉTICA E MEDICINA

tecnologia no intuito de aplacar a dor. Não encontraram o que procuravam. Isto porque a tecnologia apenas responde com tecnologia. Os resultados de nossa pesquisa evidenciaram, emprincípio, que amotivação para procurarem entrar no Projeto de Pesquisa de mutação, não se deveu ao fato de ajudar o progresso científico. Elas foram motivadas internamente pelo interesse em fazer um exame que esclarecesse se eram ou não portadoras de mutação, se o gene estava “carimbado” como disse uma das entrevistadas ou um “nada consta” como disse outra. A questão de saber a “verdade” oculta na molécula de DNA, levou algumas delas a forjarem um histórico familiar para que pudessem entrar na pesquisa, fato este descoberto durante as entrevistas. Essas mulheres tiveram o resultado do teste negativo e apesar disto, pelas contingências de ordem emocional, continuam a fazer um acompanhamento clínico necessário, porém exagerado. Uma delas disse “que quem procura acha”. O “nada consta” nestes casos trouxe alívio, por um lado, mas o medo de vir a ter o câncer de mama as persegue como um fantasma, levando-as a procurarem, de forma incessante, variados médicos e a exigirem sempre a mamografia. Uma delas se submeteu a três mamografias em um ano em função de um nódulo que foi encontrado e uma punção, talvez, desnecessária. As mulheres que aguardam o resultado, por seu turno, têm forte presença de câncer de mama e/ou ovário em suas famílias: avó, mãe, irmãs. Elas procuraram realizar o teste, mas não cobraram o resultado. Aguardavam, acreditando que o resultado será positivo e, apesar disto, não fazem o acompanhamento clínico. Após a coleta do sangue, afastaram-se, não só do Programa, como também de seus médicos particulares. Até o momento da entrevista e durante sua duração mostraram toda a agonia e sofrimento em ter que tomar uma decisão que as afetarão em sua feminilidade, quemarcará seus corpos. Estas inferências remetem a duas questões em relação ao teste. A primeira refere-se ao fato de ser percebido como preventivo, pois, somente uma falou em preditivo, o que ele não é, o que pode ter implicações sobre a saúde das pessoas, por acreditarem estarem livres de vir ter a doença. A segunda se relaciona ao que realmente ele significa, um fator de risco, um prognóstico, uma predição acerca das possibilidades de vir a aumentar em muito as chances de vir a ter câncer. Esta é a 66

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