BIOÉTICA E MEDICINA

público vem aprendendo a exercê-la. A autonomia e a informação caminham lado a lado, principalmente nos exames genéticos, em especial os moleculares. Em doenças genéticas monogênicas, onde muitos desses exames são indicados para confirmação do diagnóstico e aconselhamento genético, a detecção da criança afetada e o estudo dos familiares poderão eventualmente evidenciar casos de não-paternidade. Isto é outro aspecto que deve ser destacado antes da realização dos exames, no sentido de não suscitar conflitos. Ainda neste grupo das doenças monogênicas, pessoas absolutamente sadias e sem risco de desenvolver a doença podem ser diagnosticadas com heterozigotos, ou seja, portadores de genes deletérios, com possível risco para a futura prole e possibilidade de outros familiares em condição semelhante. E, mais grave, algumas pessoas podem descobrir que irão desenvolver a doença degenerativa. Quem tem o direito a esta informação? Cônjuges, familiares, empregadores, planos de saúde? Como estas informações serão utilizadas? Quem será beneficiado? Em prejuízo de quem? No caso de um exame indicado e realizado sem um completo esclarecimento, transforma-se uma pessoa, na maioria das vezes saudável, em vítima da tecnologia. E seu direito à escolha? E a opção de não querer conhecer seu “status” genético? Como colocado no início deste texto, a discussão das questões éticas é densa, devendo ter a participação de todos. Estamos vivendo uma era muito estimulante no tocante a perspectivas de diagnóstico. Mas precisamos sempre ter em mente que, como ensinado desde o ingresso na faculdade de Medicina, devemos valorizar a relação médico-paciente e, acima de tudo, respeitar aquele que nos procura. Os exames genéticos são tecnicamente cada vez mais simples e rotineiros, no entanto com desdobramentos de complexidade crescente, sendo um erro banalizá-los. Os cientistas e laboratoristas lidam com fluidos, moléculas, DNA, bases nitrogenadas, proteínas e mutações. Nós clínicos, lidamos com pessoas, famílias, sentimentos e vida. A evolução da ciência abre novos horizontes. Devemos, no entanto, sempre lembrar de um princípio básico da Medicina: não fazer o mal. Atuar sempre em benefício do paciente significa atenção constante na nossa conduta para evitar danos, ainda que não intencionais . *Artigo publicado no Jornal do CREMERJ , ano XV, n. 136, p. 10, jan. 2002. 61

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