BIOÉTICA E MEDICINA

54 aplainadas; em cada situação há que inventar, descobrir, criar o caminho. Os grandes tratados de ética, desde os gregos até hoje, traçaram o horizonte ético que pode ser concentrado em três referências conjugadas: justiça, solidariedade e paz. São virtudes das pessoas e das estruturas sociais. Cada época tem seu estilo de fazer justiça, criar a solidariedade e promover a paz. Por isso, a ética é inventiva e criativa. Não são os princípios que garantemo bom caminho, mas o horizonte ético. Um outro ponto forte da ética da existência temporal do homem é que ela já não se restringe ao agir humano. Quase todos os tratados de ética do ocidente, de Aristóteles a Kant, trataram dos comportamentos humanos. Hoje, o horizonte alargou- se por conta dos fatos tecnocientíficos, biogenéticos e ecológicos. Se tomarmos a vida humana como ponto capital da ética, imediatamente sentiremos que não é possível ordenar a nossa, sem pensar eticamente nas outras formas de vida, animal e vegetal. Somos companheiros do mesmo pequeno barco, o planeta terra. Para continuar a viver, o homem precisa que sobrevivam também os outros companheiros. Esta é a lição que estamos apenas aprendendo face à depredação emodificação dos animais e vegetais. As três formas de vida precisam de um ambiente adequado para continuar a expandir-se. Não podemos, portanto, continuar a destruir, poluir a água, o ar e as reservas minerais. Por isso, o princípio da dominação da terra, que a tecnociência se deu, começa a preocupar seriamente as pessoas e instituições políticas, científicas e as comunidades ecológicas. Tudo isto, homem, animais, plantas e biosfera caem sob a consideração da ética da solidariedade antropocósmica. Para que haja a convivência de todas as formas de vida, é preciso que ciência e ética se reconciliem, superando as mútuas desconfianças e rejeições. Hoje, cientistas e filósofos colaboram para a reconciliação entre a tecnociência e o saber simbólico da filosofia e da ética. Nem a ciência, nem a filosofia têm capacidade de definir todo o horizonte do saber. Tecnociência e simbólica entendem que uma precisa da outra. O cientista descobriu que o homem não se reduz ao mapeamento de seu genoma. Ninguém quer ser apenas isto; todos queremos ser “mais”. É deste “mais” que entende a filosofia, a ética e a bioética. Este “mais” é a liberdade e a criatividade que são capazes de “inventar” novas civilizações, culturas e religiões inexplicáveis pela genética tomada isoladamente.

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