PRÊMIO DE RESIDÊNCIA MÉDICA

198 199 Prêmio de Residência Médica Prêmio de Residência Médica DISCUSSÃO O perfil dos pacientes com forte suspeita de serem portadores de Síndrome de Lynch tratados no serviço de Cirurgia A do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle parece guardar semelhanças com os registros disponíveis a respeito da doença, tendo-se em vista os parâmetros avaliados. A média de idade ao diagnóstico do primeiro tumor (40,45 anos) observada em nossa amostra foi bem próxima daquela encontrada na literatura (cerca de 45 anos). Além disso, a localização das lesões, com predominância de tumores no cólon direito, está de acordo com os dados da literatura. No estudo realizado, das 12 amostras de câncer colorretal, 3 deles foram classificados como adenocarcinoma pouco diferenciados e apenas 1 como carcinoma mucinoso, porém o número reduzido de casos índice da amostra impede maiores inferências a respeito desse parâmetro. A falta de organização dos prontuários e a dificuldade de acesso ao acervo do hospital impossibilitou a obtenção de todos os dados necessários para que se pudesse obter um perfil mais completo desse grupo de pacientes. A detecção de pólipos em 14 colonoscopias torna ainda mais evidente a importância do rastreamento, uma vez que na Síndrome de Lynch há progressão mais rápida para lesões malignas, devido à aceleração da sequência adenoma-carcinoma. O rastreamento através de colonoscopia permite a ressecção endoscópica desses pólipos, diminuindo assim as chances de desenvolvimento de neoplasia maligna colorretal. Houve ainda dois caso de recidiva do tumor, após período de apenas um ano, detectada através de vigilância colonoscópica, mostrando a importância do acompanhamento com colonoscopia anual para os pacientes portadores de Síndrome de Lynch. O perfil dos nossos pacientes demonstra o desconhecimento de grande parte dos profissionais médicos a respeito da Sindrome de Lynch já que boa parte dos pacientes apresentava critérios clinicos compatíveis com a síndrome (média de idade ao diagnóstico de 40,45 anos e história familiar de câncer presente em boa parte dos casos) e, mesmo assim, não foi feito rastreamento dos familiares. Um simples histórico familiar obtido através de uma anamnese de qualidade é uma importante ferramenta diagnóstica para a Síndrome de Lynch, à medida que a história familiar é o passo inicial na identificação dos indivíduos sob risco de desenvolver neoplasias associadas à síndrome18. A suspeita clínica por parte do médico torna-se ainda mais relevante à medida que a testagem genética permanece como uma realidade distante na grande maioria dos hospitais públicos brasileiros. A suspeita clínica pode ser feita apenas com base no simples conhecimento da existência da doença, não sendo necessário nenhum aparato tecnológico. O conhecimento a respeito da doença pode salvar a vida de muitas pessoas, uma vez que o rastreamento dos familiares pode prevenir o desenvolvimento do câncer ou levar a seu diagnóstico em fases mais iniciais da doença. Fica clara tambéma importância do esclarecimento dos pacientes sobre a doença, já que eles que acabam por atuar como elo de ligação entre possíveis novos casos na família e o atendimento hospitalar, possibilitando a detecção de tumores em estágios com maiores chances de sucesso no tratamento. Muitos familiares, provavelmente por desconhecer os riscos e a gravidade da doença, negaram-se a participar do rastreio, que envolve procedimentos mais simples e de menor custo do que o tratamento de tumores que, por ventura, sejam diagnosticados em estágios mais avançados da doença. O nível cultural pode contribuir para o baixo indice de aderência dos familiares em participar do programa de rastreamento, mesmo sendo explicados os beneficios. Apesar da nossa busca ativa, grande número de familiares recusa o rastreamento. O conhecimento desse perfil característico da nossa população deve ser usado para adoção de medidas que resultem em maior aderência dessa população ao rastreamento. Em suma, os dados do presente estudo nos indicam que estamos diante de um problema de grandes dimensões, pois a maioria dos profissionais médicos não tem conhecimento a respeito dessa doença e, em decorrência disso, o diagnóstico geralmente é tardio e os familiares não são rastreados. Além disso, há clara dificuldade em convencer todos os familiares a participarem do programa de rastreamento. Dessa forma, o reconhecimento do perfil dos pacientes com diagnóstico suspeito de Sindrome de Lynch em nosso meio contribuirá enormemente para adoção de medidas que revertam essa realidade. Dentre elas, a educação médica continuada, a formação de equipe multidisciplinar no manejo desses pacientes e a implementação de políticas públicas de rastreamento para populações sob alto risco. REFERÊNCIAS: 1. Valadão M, Graziozi G, Carneiro M, Leal RA, Rosa AAPS, Almeida R, et al. A importância da suspeição clínica no diagnóstico e tratamento do câncer colorretal hereditário. Rev bras Coloproct 2008;28(4):454-61. 2. Instituto Nacional de Câncer http://www.inca.gov.br/, acessado em 23 de maio de 2011 às 15:00h. 3. Valadão M, Castro LS. Câncer colo-retal hereditário. Rev Col Bras Cir 2007;34(3): 199-200. 4. Learn PA, Kahlenberg MS. Hereditary colorectal cancer syndromes and the role of the surgical oncologist. Surg Oncol Clin N Am 2008;18:121-44. 5. Lynch HT, de la Chapelle A. Genetic susceptibility to non- polyposis colorectal cancer. J Med Genet. 1999;36(11):801-18. 6. Lynch HT, Coronel SM, Okimoto R, Hampel H, Sweet K, Lynch JF, et al. A founder mutation of the MSH2 gene and hereditary nonpolypisis colorectal cancer in the United States. JAMA 2004;291:718-24. 7. Strate LL, Syngal S. Hereditary colorectal cancer syndromes. Can Causes Contr 2005;16: 201-213. 8. Burt R, Neklason DW. Genetic testing for inherited colon cancer. Gastroenterology 2005;128: 1696-716. 9. de la Chapelle A. Microsatellite instability phenotype of tumors: genotyping or immunochemistry? The jury is still out. J Clin Oncol 2002;4:897-99. 10. Aaltonen LA, Peltomäki P, Mecklin JP, Järvinen Heikki, Jass JR, Green JS, et al. Replication errors in benign and malignant tumors from hereditary nonpolypolis colorrectal cancer patients. Cancer Res 1994;54:1645-8. 11. Brose MS, Smyrk TC, Weber B, Lynch HT. Genetic predisposition to cancer. In: Holland JF, Frei EIII, Bast RC, Kufe DW, Pollock RE, Werchselbanm RR, editors. Cancer medicine 5th ed. Canada: BC Decker 2000. 12. Lindor NM, Petersen GM, Hadley DW, Kinney AY,

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