PRÊMIO DE RESIDÊNCIA MÉDICA
52 53 Prêmio de Residência Médica Prêmio de Residência Médica em momento inadequado. Questões pessoais e sociais propiciam a ocorrência da gestação na adolescência, e esta tem impacto relevante tanto na vida da mãe, do pai, da criança que nascerá e suas famílias quanto na sociedade. Assim, este estudo visa identificar o perfil comportamental sexual e de auto-imagem das gestantes adolescentes e desta forma contribuir para melhor assistência a estas mulheres e mais eficiente abordagem de políticas públicas quanto ao tema. A ADOLESCÊNCIA, MOMENTO DE CRISE A Organização Mundial de Saúde –OMS- define que adolescência é compreendida entre 10 e 19 anos. No Brasil, a Lei n° 8069, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, considera adolescente a pessoa que tem entre 12 e 18 anos de idade. Para fins de pesquisa, considera-se geralmente a primeira definição. Segundo censo realizado em 2002, há, no Brasil, 33 milhões de adolescentes2 e no município do Rio de Janeiro, eles correspondem a 16,18% da população 3 . O conceito de adolescência pode ser definido como “fase de adaptação aos caracteres sexuais secundários, busca da autonomia como indivíduo independente e, ainda, abertura da capacidade de estabelecer um código de ética próprio ou escalas de valores”4. Esta “busca da autonomia” poderá ocorrer de diferentes formas, de acordo principalmente com o meio familiar no qual o adolescente vive. Enquanto alguns a buscam através do estudo, já que uma profissão o ajudará a compor sua identidade, função na sociedade e a alcançar independência financeira, outros não identificam esta perspectiva. Estes vão buscar status social através da liderança de grupos dentro do espectro de suas amizades ou de liderança de grupos com comportamento anti- social. Dentre as meninas, a busca por compor sua identidade e feminilidade e por definir sua função social pode levá-la à gravidez. A autonomia ocorre ainda de modo diferente entre os sexos. Em estudo com adolescentes de escolas municipais do Rio de Janeiro, identificou-se que “...tanto no fato de participar de eventos sociais, como na atividade sexual ou no uso de qualquer tipo de prevenção, os adolescentes do sexo masculino se mostraram mais dispostos a declarar que sua vontade predominava sobre a das mulheres.”5. Por estar ainda “se adaptando a seus caracteres sexuais secundários”, à sua aquisição da identidade feminina; por estar ainda “estabelecendo sua escala de valores” e sua auto-imagem, além de questões culturais de depreciação da mulher costumeiramente presentes, frequentemente a adolescente não declara sua vontade, seus limites e não negocia o uso de métodos contraceptivos. A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA A Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia, FEBRASGO, divulgou que em 1999 26,96%das adolescentes estavam grávidas.6 Gama nos informa ainda que “entre 1989 e 1995, 20% dos nascidos vivos eram filhos de adolescentes, especialmente de 15 a 19 anos. No entanto a faixa de 10 a 14 anos apresentou o maior incremento neste período, de 7,1% ao ano” 7 . E qual é o significado de uma gestação precoce? O impacto inicial poderá ser vivenciado de formas distintas. Em um estudo sobre o processo de assumir a gestação, Amazarray identificou que o padrão é uma reação adversa ao fato de ter engravidado, sendo comuns sentimentos de conformidade, surpresa, perplexidade, arrependimento e desespero. As entrevistadas relataram ainda dificuldade para freqüentarem a escola e conseguir bons empregos, mas acreditavam que a gravidez representou um fator de amadurecimento em suas vidas.8 Outros autores acreditam que trata-se de um engano, já que com a gestação a adolescente torna-se mais fragilizada e sua auto-estima diminui, ao mesmo tempo que a sociedade cobra que ela se torne adulta e não mais adolescente. 9 Apesar de todas estas dificuldades, são poucas as meninas que se arrependem da gestação precoce. A maioria se sente agora importante e pretende dar uma educação diferente da que recebeu. Lutar pelo filho torna-se um impulso para buscar uma nova vida. 10 Para a família, pesam o aspecto financeiro e a sensação de ter falhado na educação da adolescente. Entretanto, a gravidez precoce vem se tornando cada vez mais socialmente aceita, especialmente porque muitas vezes a adolescente em questão é também fruto de uma gestação nas mesmas condições. Para a criança que vem ao mundo, a falta de estrutura familiar e financeira são contextos freqüentes. Quando a mãe é proveniente de um lar no qual recebia maus-tratos, é maior o risco de ocorrer o mesmo para o recém-nato.1 A perspectiva de ter uma formação adequada, apesar das dificuldades, dependerá de múltiplos fatores, incluindo a ação do Estado na realidade desta nova família. MÉTODO Este estudo caracteriza-se como transversal e teve como objeto de estudo gestantes de 10 a 19 anos, atendidas no Hospital Maternidade Oswaldo Nazareth no pré-natal, enfermaria de gestantes ou puerpério. Foi realizada elaboração do projeto, elaboração de questionário estruturado após atualização bibliográfica e submissão do questionário a pré-teste, adequando as opções de resposta. O projeto foi submetido à Comissão de Ética da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro e aprovado. Realizou-se trabalho de campo de julho de 2005 a dezembro de 2006, solicitando consentimento informado às pacientes e responsáveis, caso as mesmas fossem menores de 18 anos. Os dados foram registrados e analisados utilizando o EPI INFO 3.4. RESULTADOS Foram entrevistadas 66 adolescentes, que tinham em média 16,7 anos, variando de 13 a 19 anos (moda 17, desvio padrão 1,5). Quanto ao estado civil, 53,1% se declaram solteiras (40,3-65,4 IC), 42,4%, solteiras com companheiro (30,3-55,2 IC) e 4,5%, casadas (0,9-12,7 IC). Figura 1. A idade média à ocasião da sexarca foi de 14,4 anos (moda 13, desvio padrão 1,8). Perguntadas quanto ao número de parceiros desde a sexarca, 57,6% (44,8-69,7 IC) respondeu que teve 1 ou 2 parceiros, 16,7% (8,6-27,9 IC) respondeu que teve 3 ou 4 parceiros, 16,7% (8,6-27,9 IC), 5 ou 6 parceiros e 9,1% (3,4-18,7 IC), mais de 7 parceiros. Figura 2. O período entre a sexarca e a primeira gestação foi menor que 6 meses em 27,3% dos casos (17,0-39,6 IC), 7 a 12 meses para 16,7% (8,6- 27,9 IC), 1 até 2 anos para 25,8% (15,8-38,0 IC), de 2 até 3 anos para 16,7% (8,6-27,9 IC) e maior que 3 anos para 13,6% (6,4-24,3 IC) das entrevistadas. A gestação foi planejada em 28,8% (18,3-41,3 IC) dos casos e não-planejada em 71,2% (58,7- 81,7 IC). Quanto ao uso de preservativo masculino, 47% (34,6-59,7 IC) declarou que não o utiliza “nunca”, 31,8% (20,9-44,4 IC), “às vezes”, 15,2% (7,5-26,1 IC) “quase sempre” e 6,1% (1,7-14,8 IC), “sempre”. Perguntadas se utilizavam algum método anticoncepcional, no grupo que respondeu que não planejou engravidar, 51,5% (38,9-64,0 IC) declarou que “não” e 48,5% (36,0-61,1 IC), que “sim”. Quanto ao método escolhido, 37,5% (21,1-56,3 IC) optou pelo preservativo masculino, 3,1% (0,1-16,2 IC) contraceptivo hormonal e preservativo, 21,9% (9,3-40,0 IC), preservativo e coito interrompido, 12,5% (3,5-29,0 IC) declarou utilizar somente coito interrompido e 25% (11,5-43,4 IC) somente contracepção hormonal. Questionadas quanto à razão da falha do método ou por quê este não foi utilizado, este grupo respondeu da seguinte forma: 28,1% (13,7-46,7 IC) foram incluídos na categoria “utilização incorreta”, pois declaram que o preservativo “estourou” ou “saiu” ou não usou o contraceptivo hormonal de maneira correta; 18,8% (7,2-36,4 IC), “esqueceu”; 6,3% (0,8- 20,8 IC) “não quis usar”; 6,3% (0,8-20,8 IC), “o parceiro não quis usar”; 21,9% (9,3-40,0), “não tinha o preservativo a mão” e 18,8% (7,2-
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