Clipping - Medo de que a situação se agrave
O Globo / Barra
15/11/2018
Cortes anunciados pela prefeitura preocupam pacientes
O plano de reestruturação da Atenção Básica da Prefeitura
do Rio, anunciado há duas semanas, inclui o corte de 239 equipes atuantes em
Clínicas da Família em diferentes áreas da cidade. Na Área de Planejamento
4.0(AP4)—queincluiBarra, Jacarepaguá e Cidade de Deus —, serão 36 equipes,
resultando numa redução de 28,34% do pessoal. Às vésperas das demissões,
profissionais e pacientes temem piora no atendimento, já precário em muitos
aspectos.
A equipe do GLOBO-Barra percorreu unidades de saúde da região
na quarta-feiradas emanap assada. Em todas havia queixas. Às7h,u ma hora antes
da abertura do Centro Municipal de Saúde (CMS) Hamilton Land, na Cidade de
Deus, a auxiliar de limpeza Ana Beatriz Belarmino de Souza, de 20 anos, entrou
na fila para tentar garantir a realização de um exame de sangue. Às 9h15m,
continuava esperando.
— Pelo menos aqui sempre conseguimos atendimento —contou.
Ana Beatriz também vai ao CMS para buscar pílula
anticoncepcional e fazer exames de rotina. Sua mãe e sua avó são atendidas em
casa, mas o serviço é irregular:
— As visitas não são frequentes. Os médicos vão quando
querem e não procuram saber se precisamos de alguma coisa quando não vão. Minha
mãe tem que fazer um exame nas mamas e ainda não conseguiu marcar. Da minha
avó, de 85 anos, só medem a pressão.
José Caetano, de 80 anos, foi ao mesmo CMS tentar, mais uma
vez, conseguir dipirona de 500mg. O remédio lhe fora recomendado dez dias
antes.
— Não sei por que não consegui —disse.
No Centro Municipal de Saúde Harvey Ribeiro de Souza Filho,
no Recreio, a operadora de caixa Andressa Ferreira procurava atendimento para o
filho de 2 anos, que estava febril. Saiu de lá sem que ele fosse medicado.
— A médica nem olhou meu filho. Só falou que era um
resfriado —lamentou.
A Secretaria municipal de Saúde (SMS) afirma que a
“adequação ajusta a oferta de serviços à necessidade real de cada região da
cidade, uma vez que o estudo demonstrou que a população mais pobre e que conta
com menor infraestrutura de serviços públicos estava contando com menos equipes
para o atendimento”. O diretor do Sindicato dos Médicos, Alexandre Telles, no
entanto, afirma que a situação tende a se agravar em áreas com baixo Índice de
Desenvolvimento social (IDS).
— Em vez de a secretaria
expandira atenção na Cidade de Deus, por exemplo, cortará
ainda mais os atendimentos — reclama. — Isso vai impactar diretamente em
cuidados primários como pré-nata lena prevenção e no tratamento de doenças como
tuberculose, Aids, hanseníase, hipertensão e diabetes.
No Anil, a aposentada Rosa Ancelmo de França, de 65 anos,
tentava, pela quarta vez, obter remédios para diabetes, hipertensão e
osteoporose na Clínica da Família Barbara Mosley de Souza.
—Tudo tem piorado, e está difícil conseguir remédio. Mas as
agentes de saúde são muito boas —diz ela, que teme os cortes anunciados pela
prefeitura. —Dizem que vão reduzir o número de médicos, e aqui estamos
precisando de atendimento para jovens, crianças, idosos. Os agentes de saúde
passam sufoco para receberem o salário. Houve um mês em que pensei que a
clínica ia fechar.
A SMS afirma não haver falta generalizada de medicamentos
na rede. Quanto ao salário, diz que o de outubro será pago até quarta-feira.