Clipping - Hospital sem morfina para dar a pacientes
Extra / Cidades
26/06/2018
“Bom dia, ou melhor, péssimo dia. Centro cirúrgico parado
sem borracha de aspiração”. Essa foi a primeira mensagem enviada ontem, às
8h29, por um cirurgião no grupo de WhatsApp das chefias médicas do Hospital
Federal de Bonsucesso (HFB). A falta de insumos e medicamentos tem prejudicado
o atendimento na unidade e levado ao cancelamento de cirurgias, segundo
profissionais de saúde do hospital. A crise no abastecimento já ameaça também
os transplantes renais.
— Se não chegar timoglobulina até hoje (ontem), os
transplantes renais não poderão mais ser feitos no Bonsucesso, sendo que a
unidade realiza cerca de 80% dos transplantes renais do Rio de Janeiro —
afirmou Júlio Noronha, médico do HFB e representante da Federação Nacional dos
Médicos.
Segundo ele, a timoglobulina é usada durante a cirurgia
para evitar rejeição aguda ao órgão transplantado.
Médicos relatam ainda o drama de pacientes com câncer que
não estão conseguindo retirar remédios para dor na farmácia da oncologia.
— Na semana passada, não havia tramal, morfina nem tylex em
comprimido. Hoje (ontem), só tem tramal e morfina para fazer na veia. Mas não
há remédio para o paciente retirar na farmácia. Para piorar, estamos sem
receitas azul e amarela, para medicação controlada. Então o paciente não tem
nem como comprar morfina na farmácia — disse um médico, que pediu para não ser
identificado.
Desespero de médicos
O requerimento para a confecção de 300 talonários para
receituário de medicamentos controlados foi feito pelo chefe da Divisão Médica
do HFB no dia 23 de maio. No documento, o médico relata a urgência. Mas a
direção do hospital afirma que o receituário foi entregue no dia 23 de maio
mesmo.
No grupo de mensagens, médicos narram o desespero de não
ter o que dizer aos pacientes: “Sem mais prescrição de (medicamento) controlado
no HFB... até retornar ao normal! Melhor dizer que ainda não tem”, escreveu uma
médica. “Pacientes com convulsão estão ficando sem remédio”, informou outro,
que também não tinha como fazer a prescrição.
Uma lista de 27 insumos em falta no centro cirúrgico, entre
eles cinco tipos de fios de sutura, além de dez medicações, dá a dimensão das
dificuldades enfrentadas.
— A primeira operação de hoje (ontem) foi suspensa porque
não havia cateter para peridural (anestesia) — diz Baltazar Fernandes,
presidente do Corpo Clínico do hospital.
A direção do HFB afirmou que a unidade não está
desabastecida. “Caso não haja a disponibilidade imediata de algum material ou
medicamento que aguarde reposição, mediante entrega de fornecedores, o mesmo é
obtido através de empréstimo com outro hospital da rede”. Em nota, informou que
providenciou os materiais para as cirurgias, sem prejuízo a nenhum paciente.
Sobre os transplantes renais, afirmou apenas que não estão suspensos.