Clipping - Bonsucesso: com emergência, mas sem médicos
Extra / Cidade
28/02/2018
Após mais de seis anos de obras, um embargo e quatro
adiamentos, a nova emergência do Hospital Federal de Bonsucesso abre as portas
hoje. O espaço, que consumiu R$ 21 milhões do Ministério da Saúde, tem 2.600m²
construídos e foi equipado com aparelhos modernos. Mas falta o principal:
médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem para atender a população. O
déficit é de cerca de 200 profissionais, de acordo com a Defensoria Pública da
União. Sem condições de garantir o pleno funcionamento do setor, o corpo
clínico da unidade havia sugerido, na semana passada, postergar a inauguração.
Porém, a direção do hospital preferiu cumprir a decisão judicial que
determinava a abertura para hoje, sob pena de multa.
Ontem, o clima era mais tenso do que o comum na improvisada
“emergência de lata”, que funciona em contêineres desde 2012. Os médicos
fizeram uma força-tarefa para avaliar os pacientes, com a ordem de fazer
transferências internas para reduzir a quantidade de pessoas internadas. Havia
67 pacientes no local na sexta-feira, mais do que a capacidade da nova
emergência: são 20 leitos de observação para adultos, dez de CTI, dez
pediátricos e 4 na sala vermelha, além de 20 poltronas. Na porta, os
acompanhantes estavam apreensivos.
Estão amontoando os pacientes no prédio central. Ouvi dizer
que vão dar alta para quem está menos pior. A gente já não consegue ter
medicamento nem acomodação. Os corredores estão sempre cheios de maca.
Pacientes que deviam estar em leitos passam dias na cadeira. Se eles não dão
conta com uma emergência desse tamanho, não tem condição de abrir uma maior —
desabafou a promotora de eventos Roberta Daher, de 36 anos, que há dez dias
acompanha a mãe, que sofre de câncer no pulmão.
Profissionais reclamam
Os profissionais não escondem a insatisfação. Dois clínicos
da emergência pediram demissão ontem, após saberem que o espaço seria
inaugurado. O corpo clínico enviou nota ao ministro da Saúde, Ricardo Barros,
alertando que a insuficiência de recursos humanos “compromete a saúde” da
população e “coloca em risco a integridade física das equipes de saúde”. O
presidente do Cremerj,
Nelson Nahon, também criticou.
O Ministério da Saúde informou que o HFB vai atender
emergência de alta complexidade. “Casos como má formação congênita, problemas
cardíacos com menos de 24h, cálculos renais e apendicites serão transferidos de
outras emergências para realizar as cirurgias no HFB”.