Clipping - Após denúncias, chefe da emergência é exonerado
Extra /
22/06/2017
Colegas da unidade divulgam carta aberta à população e pedem socorro
Um dia depois de denunciar os superiores ao Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj) por crimes contra a vida, o chefe do setor de emergência do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), Júlio Noronha, foi exonerado do cargo ontem. O Ministério da Saúde não divulgou o motivo do afastamento, que foi criticado por médicos da unidade. Os profissionais de saúde divulgaram uma carta em apoio a Noronha.
Em um documento entregue ao Cremerj, o chefe da emergência responsabilizou a diretora-geral do
Hospital de Bonsucesso, Lúcia Bensiman da Silva, e o diretor do Departamento de
Gestão Hospitalar do Ministério da Saúde no Rio, Marcus Vinícius Fernandes
Dias, pela falta de médicos em quantidade suficiente para garantir atendimento
aos 60 pacientes internados na emergência. Segundo ele, nos fins de semana, era
comum só haver três plantonistas no setor e, às vezes, nenhum. O Cremerj
instaurou uma sindicância para apurar o caso.
No último dia 4, uma paciente morreu durante a madrugada,
sem socorro, pois não havia, segundo denúncia de funcionários do hospital,
médicos de plantão na emergência ou nas enfermarias. Maria Elizete Vanderley da
Silva, de 77 anos, estava na sala vermelha. Num registro feito à mão no livro
de enfermagem, consta que, a 1h40m, o monitor ligado à paciente apresentou
“traçado de assistolia”, ou seja, a linha que registra os batimentos cardíacos
estava contínua, indicando uma parada cardiorrespiratória, mas não havia
médicos no setor.
Na carta aberta à população, que não foi assinada, médicos
do HFB afirmam que “quando uma denúncia que reflete apenas a realidade é feita,
o médico é demitido. Pedimos ajuda, na verdade socorro. Por favor”.
Outro afastamento
Não foi a primeira vez que
o médico Júlio Noronha foi exonerado por divulgar denúncias contra a
precariedade da saúde pública. Em 2012, ele já havia sido afastado do mesmo
cargo após reclamar, ao longo de todo o ano anterior, da falta de
infraestrutura do Hospital Federal de Bonsucesso.
— Passei por isso durante
a minha vida inteira porque nunca me submeti ao que eu achava que não era
certo. Não estou me vangloriando, mas acho que a gente tem que ter paz de
espírito para viver bem — declarou ele: — O meu sentimento é de dever cumprido.
Após a denúncia feita por ele ao Conselho de Medicina do Rio, a
diretora do hospital determinou a reorganização da escala de plantão o HFB.
Agora, cada dia tem pelo menos quatro médicos. O Departamento de Gestão
Hospitalar do Ministério da Saúde informou que já solicitou a exibição da
escala dos 94 médicos lotados na emergência e afirmou que o hospital dispõe de
892 médicos.